FAQ

O termo microbiota diz respeito a uma comunidade de microrganismos num ambiente específico, o que frequentemente é designado por “flora” comensal. Ao considerarmos o papel dos microrganismos, as interações entre as várias espécies e a sua função, estamos a falar de microbioma. Do ponto de vista conceptual, podemos definir o microbioma segundo duas perspectivas: a ecológica, isto é, a comunidade de espécies comensais e simbióticas que compartilham o nosso espaço corporal; e a genómica e inter-relacional, sendo o microbioma a soma dos microrganismos e dos seus elementos genéticos, considerando a sua função no organismo e as interações entre si.

Fundamentalmente, o ser humano deve ser percecionado como um holobionte, isto é, um ecossistema mutualístico composto pelos três domínios da vida – Bacteria, Archae e Eukaryota. De um modo geral, os sistemas humanos (digestivo, reprodutor, imunitário, etc.) dependem da interação com esta diversidade de microrganismos mutualistas para se considerarem biologicamente e funcionalmente completos.

A composição da microbiota, influenciada pela dieta e/ou pela administração de probióticos, pós-bióticos ou prebióticos é uma oportunidade de prevenção de muitas doenças ligadas à dieta e ao estilo de vida ocidentais, sobretudo as relacionadas com alterações metabólicas. A nutrição de precisão oferece um potencial para gestão de doenças através da dieta e da modulação intestinal para melhorar a qualidade de vida e a longevidade.

De facto, pode dizer-se que esta relação bilateral e necessária, de ganho para ambas as partes – humana e microbiana – tem início a partir das primeiras fases de desenvolvimento humano, ainda antes do nascimento, quando ocorre a colonização do feto. Posteriormente, e em grande medida, o recém-nascido tem contacto com a microbiota vaginal através do canal de parto, sendo esta uma etapa determinante para o estabelecimento de uma microbiota saudável ao longo da vida. Esta perspetiva leva-nos a considerar as potenciais janelas de oportunidade para a modulação do microbioma em etapas chave do desenvolvimento humano. Neste sentido, merecem especial atenção a gestação, o nascimento e a infância precoce, pontos de intervenção onde a alteração do microbioma tem maior probabilidade de impactar a maturação e o desenvolvimento dos sistemas fisiológicos da criança, como por exemplo o sistema imunitário.

Uma dieta equilibrada e saudável pode promover um microbioma intestinal diversificado e saudável, o que pode ter efeitos benéficos na função cerebral e no bem-estar mental. Por outro lado, uma dieta desequilibrada, rica em alimentos processados, gorduras saturadas e açúcares refinados, pode promover um microbioma intestinal disfuncional, associado a inflamação e stress oxidativo, que por sua vez podem afetar negativamente a função cerebral e contribuir para distúrbios como a SII, ansiedade e depressão.

Em 2023 Emran Mayer publicou um artigo que mostra a conexão bidirecional entre microbioma e cérebro através do ambiente intestinal. Nesta revisão são apresentadas evidências que apoiam um modelo integrativo cérebro-intestino-microbioma, incorporando um conjunto de estudos sobre mecanismos neurobiológicos periféricos e centrais de doença, bem como a sua influência em disfunções neuronais do sistema nervoso central (SNC) e do sistema nervoso entérico (SNE).

Mayer EA, Nance K, Chen S. The Gut-Brain Axis. Annu Rev Med. 2022 Jan 27;73:439-453. doi: 10.1146/annurev-med-042320-014032. Epub 2021 Oct 20. PMID: 34669431.

Dietas, stress, uso excessivo de antibióticos, sedentarismo, excesso de álcool, tabagismo, distúrbios alimentares e envelhecimento

Os alimentos ricos em probióticos incluem: iogurte, kefir, kombucha, chucrute, tempeh, miso, natto, kimchi e pikles pepino. Os suplementos probióticos estão disponíveis em forma de cápsulas, comprimidos ou pós.

Os prebióticos são fibras vegetais não digeríveis que servem como alimento para as bactérias benéficas no intestino, enquanto os probióticos são microrganismos vivos que proporcionam benefícios à saúde, quando consumidos em quantidades adequadas.

Ao escolher um probiótico, é importante considerar as estirpes específica, a quantidade de UFC (unidades formadoras de colónias) e a validade do produto. Deve consultar um profissional de saúde para ajudá-lo a escolher o probiótico mais adequado às suas necessidades.

Embora os probióticos sejam geralmente seguros para a maioria das pessoas, algumas pessoas podem experimentar efeitos colaterais leves, como gases ou desconforto gastrointestinal. As pessoas com problemas no sistema imunológico devem consultar um médico antes de tomar probióticos.

Em geral, os probióticos são seguros para tomar em conjunto com outros medicamentos, mas deve consultar um profissional de saúde para garantir que não haja repercussões da interação entre medicamentos.

Os probióticos podem ajudar a melhorar a saúde digestiva, fortalecer o sistema imunológico, regular o trânsito intestinal, reduzir a inflamação e até mesmo promover uma pele saudável.

Em geral, os probióticos são considerados seguros para serem tomados por crianças e idosos, mas é importante usar os produtos adequados à idade e seguir as instruções de dosagem. Consultar um médico pediatra ou médico de geriatria é sempre recomendado.